Situação de tortura em hospitais é "comportamento intolerável"
"É evidente que é de rejeitar absolutamente. É um comportamento intolerável do ponto de vista humano, e como médico, é das situações que tem que levar os médicos a pôr-se à frente dos doentes e se necessário a padecerem por eles", defendeu, em declarações à Lusa, o médico e presidente da organização não-governamental portuguesa.
Um vídeo gravado secretamente por um funcionário de um hospital da cidade síria de Homs, divulgado na segunda-feira pelo canal britânico Channel 4, mostra o que parecem ser pacientes a serem torturados por médicos.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos assegurou hoje que alguns hospitais sírios converteram-se em centros de tortura dos feridos nos protestos contra o regime do Presidente da Síria, Bashar Al-Assad.
"É uma tragédia total o que se está a viver na Síria. Estamos a assistir a uma duplicação dos acontecimentos que se viveram na Líbia", afirmou Fernando Nobre, que comparou a situação da cidade síria de Homs à da cidade líbia de Benghazi, bastiões de oposição aos respetivos regimes ditatoriais e as duas fortemente fustigadas por ataques.
O presidente da AMI lamentou "a destruição de um país", e diz já não acreditar que haja outra solução que não seja o derrube do regime de Bashar Al-Assad, mas sublinha que é de evitar qualquer solução que não parta de "um consenso no quadro das Nações Unidas".
"É extremamente perigoso essas atitudes militares unilaterais. Precisamos de encontrar um consenso no quadro das Nações Unidas onde é preciso ouvir a Rússia e a China, sobretudo no contexto que estamos a viver de uma recessão global. O mundo não precisa de mais conflituosidade", defendeu.
Fernando Nobre referiu o complicado contexto geopolítico e religioso da área, e afirmou que depois de deposto o presidente sírio, "não sabemos que fundamentalismos se vão instalar num país que é laico".
O líder da AMI lamentou também que o acesso aos feridos por parte da Cruz Vermelha Internacional esteja vedado e que as organizações internacionais não tenham "margem para atuação".